quinta-feira, 12 de junho de 2014

SP em 2 Rodas - Finalizando...

De Marília a Rosana, tranquilidade 90%


Quando falo em tranquilidade, significa não enfrentar subidas, hehe. Só após Marília apareceu um trecho de "serrinha" para me contrariar um pouco... desnível de quase 300 metros em cerca de 5 quilômetros.

Mentalmente eu tinha uma série de compromissos a realizar em Marília, pois não a visitava desde uma rápida passagem em 2010, depois de 24 anos de hiato. Infelizmente não consegui realizar quase nada. Com a "obrigação" de realizar no menor tempo a viagem, decidi que não passaria mais que 1 dia na cidade. 

Assim que entrei fui direto à sede do Marília Atlético Clube, MAC, ou Tigrão. Como torcedor do time, sempre em contado através do Facebook durante a campanha pelo acesso à série A1 neste ano, sentia-me no "direito" de procurar abrigo para pernoite em suas dependências. Cheguei no Abreuzão, fiz logo essa foto aí abaixo, no mesmo local que fiz uma quando passei em 2010...

Procurei pela diretoria, não encontrando nenhum representante naquela hora. Encaminharam-me à equipe de ciclismo da Prefeitura, que tem sua sede ali junto ao Estádio. Muito providencial. Conheci 3 atletas da equipe, entre eles o Eduardo, que me mostrou sua bike freeride, a qual eu não conhecia "de perto". Experimentei a mesma e a senti bem estranha, muito diferente da Áquila: dura, pesada. Eu imaginava que fosse bem leve. Ele me explicou que ela é muito resistente, devido à finalidade de saltos e mais saltos. Quem sabe se eu fosse uns 40 anos mais novo me aventuraria nesse estilo?...

Mais do que mostrar as dependências e bicicletas da equipe, eles contataram o Gastão, Secretário de Esportes da Prefeitura, que me ofereceu as dependências do Ginásio de Esportes para eu passar a noite. O que fiz no prédio da escola de tênis de mesa. Ainda vi parte de uma partida de vôlei entre as equipes de Marília e Echaporã. Ainda ali pela sede do MAC, fui à loja oficial do clube, onde fui presentado com um boné do time - estava fazendo muita falta, pois perdera o boné que trazia comigo. E na primeira parte da viagem, lá no Vale do Paraíba, havia perdido o boné do MAC anterior...







A equipe da Secretaria de Esportes, novos amigos

Tencionava procurar por um antigo amigo de infância, o João Carlos Fernandes, de quem tivera notícias lá em 2010, com sérios problemas de saúde, mas não encontrei ninguém conhecido próximo ao local onde morávamos. Aproveitei para visitar a Igreja Santo Antônio; morei em uma casa bem atrás dela. Uma historinha: nos fundos da igreja, naquela época, 1960 e alguma coisa, funcionava a Rádio Vera Cruz, conhecida como a Verinha. O rádio era o meio de comunicação mais difundido e apreciado naquele tempo, nada de TV, internet. E ali começou a despontar um locutor esportivo que se projetou nacionalmente: Osmar Santos, que teve a carreira interrompida tragicamente em um acidente de automóvel. 
Fui visitar o antigo Instituto de Educação Monsenhor Bicudo, hoje Escola Estadual. Infelizmete passei por lá em horário pleno de aula e não deu para uma visita mais completa. O vice-diretor que me atendeu, informou-me que perdi por 2 semanas (ô raiva!) as comemorações dos 50 anos do colégio. Uma pena mesmo.



Aqui funciona o posto do AcessaSP...
...onde surgiram 2 novos amigos, André e Pedro
Na saída da cidade, foto para pagar promessa a uma amiga de Formosa
Como a pressa é inimiga mesmo da perfeição, não me demorei na cidade e deixei de apreciar e reviver muita coisa. Mas o simples fato de passar pela cidade me fartou de saudosismo. Certamente voltarei a Marília mais vezes.

ECHAPORÃ
Visita rápida, um tanto frustrante.

Pretendia pernoitar na cidade, mas lá chegando fiquei sabendo que os 2 hotéis da cidade tinham fechado... Então fiz apenas o cumprimento do dever: visitei o posto do AcessaSP, onde conheci o Rick, muito boa-gente. Esqueci o meu boné do MAC e mais à frente ele me contata por email me informando e se prontificando a me enviar pelo correio, o que foi feito. Obrigado mais uma vez.


Bem, me preparei para pedalar até Assis, 30 km adiante, apesar do adiantado da hora, eram cerca de 16:30 h. Lá em Marília, em conversas havidas, me informaram que depois de Echaporã tinha um Posto de Combustíveis que oferecia quartos para pernoite. O mesmo me informaram na cidade, então decidi dormir lá mesmo. E como ficav a apenas 5 km da cidade, fui sem pressa. 

Cheguei ao Posto Pinheirão em torno de 17:30, já quase por escurecer. Mas aí, SURPRESA!!!! O hotel havia sido desativado há poucas semanas... felizmente tenho cara de honesto e graças a isso o proprietário permitiu que eu dormisse no escritório do posto, que funcionava 24 h. Apesar de não ter uma cama ou nada parecido, untei uns papelões por ali e dormi ali mesmo, lembrando do Noel Rosa: 

O orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo, as estrelas lá do céu
Tenho passado tão mal
A minha cama é uma folha de jornal...

O frio durante a madrugada foi considerável, em torno dos 13 graus. Mas o funcionário se lembrava de fechar a porta sempre que precisava realizar alguma operação no caixa e isso me deixou bem abrigado. Essas condições de pernoite me lembraram também da noite que dormi no ginásio da Academia Miquinhos, em São Manuel, quando o frio chegou a 6 graus... Incidentes de percurso, totalmente normal.


ASSIS
Cheguei bem cedo à cidade, ali por 9 horas. Como só tinha pedalado 30 km no dia, decidi seguir em frente pois a cidade, de maior porte, significava despesas maiores, o que sempre evito nessas viagens.

Pela avenida que entra na cidade fui chegar diretamente na Catedral. De São Francisco de Assis, muito bonita, a igreja. No pátio em frente, uma grande praça, juntavam-se dezenas de pessoas trocando figurinhas. Literalmente. O marketing dessa Copa está tão massivo que até isso eles ressuscitaram, a febre pelo álbum de figurinhas. Nas copas de 58 e 62 me lembro muito bem de meu pai colecionando seus álbuns. Depois disso me desinteressei e confesso que só vim notar essa atividade (troca de figurinhas em praça) neste ano, não sei se em outras copas foi assim, pois sou muito desligado de futebol, nem copa mundial me atrai.


Fiz um lanche reforçado ali por perto, centro comercial bem movimentado, com os estabelecimentos todos cheios, poucos lugares disponíveis na lanchonete que escolhi ao acaso...era sábado. E segui viagem. Só conheci a Estação Ferroviária porque ficava no caminho. Me agradou bastante o trânsito amigával ao ciclista: cruzei quase que toda a principal avenida e não me senti ameaçado em nenhum momento. Ponto para o povo de Assis.

Mas na saída, já no anel rodoviário (algo assim) me desanimei um pouco pela exposição perigosa: a estrada está em obras, sem acostamentos e o movimento de caminhões era grande. Só quando cheguei à Rodovia Raposo Tavares é que sosseguei.


Dali segui para

MARACAÍ
Uma agradável surpresa

Sinceramente nunca tinha ouvido falar nessa cidade. Minha experiência e conhecimento anterior do Estado de São Paulo não incluía o Oeste do estado. Até 1969, quando fui para Brasília, essa região era totalmente ignorada por mim. O que explica em parte essa minha viagem pelo estado, o resgate de minha juventude. Sei lá, deve ser...

Desde Assis a estrada é um tapete, incluindo o acostamento, fazendo me sentir um trem-bala. Rodagem tranquila, sem solavancos, desvios repentinos e... glória, sem aclives acentuados. Acho que só vi uma placa dessas, até o RodoMaster, no municípo de Regente Feijó, a próxima etapa.


Maracaí é uma cidade tranquila, até demais. Antes de entrar na cidade propriamente, a 2 km antes, fui parado por um cidadão que estava de moto. Ele me viu, retornou e veio falar comigo, matar a curiosidade. Era o Adilson, que tem uma oficina mecânica na cidade. Gente boa, cara simples, educado, gentil. Sensibilizou-me bastante sua atitude. Ficamos de nos ver na cidade, mas não houve oportunidade, infelizmente. Fica com Deus, Adilson.

Fiquei 2 dias na cidade, procurando descansar bastante, pois daí pra frente teria que pedalar mais de 60 km por dia, esforço um tanto demasiado para meus padrões. Na segunda saí cedinho rumo a Regente Feijó, cidade que na verdade não alcancei, pois desviei de rumo a poucos quilômetros antes, pegando a direção de Pirapozinho.
Igreja matriz em reformas


Hotel Real

A Raposo Tavares está em ritmo de obras, com diversos trechos interrompidos, o que me ajudava bastante, pois com uma pista interditada para os veículos, ficava aquela outra totalmente ao meu dispor, hehe... Pouco antes de chegar ao entroncamento Regente Feijó/Pirapozinho, parei para almoçar em um restaurante frequentado por muitos trabalhadores da empreiteira das obras, a OAS. Foi nesse lugar que conheci o jovem engenheiro Marcos Jr, morador em Presidente Prudente, que se prontificou a me dar apoio se eu necessitasse na volta, conforme eu havia lhe explicado sobre meus planos de passar pela cidade, para embarcar ali com destino a Brasília.



Nesse dia, 19 de maio, pernoitei no Posto RodoMaster, o Boing (sic) da Estrada, seu jargão. Tem como atração uma série de figuras de animais, personagens populares e folclóricos, além de cinema. Não consegui falar com o proprietário para saber o motivo daquele ambiente meio hollyoodiano, que encanta muita gente que passa por ali. Certamente é um grande chamariz para seu negócio, pois em toda a região, pelo que pude apurar, ele é conhecido.

Deixei o RodoMaster num frio gostoso de se pedalar...


ANHUMAS
seria o destino no dia anterior, mas ainda em Maracaí fiz contato com a prefeitura de lá e fiquei sabendo que não havia hotéis ou pousada na cidade. Assim apenas passei pela cidade, rapidamente, suficiente para fazer umas fotos e seguir caminho para Mirante do Paranapanema.


AcessaSP em Anhumas. O Luiz, monitor, não tinha chegado e eu segui viagem.


Passaria por Pirapozinho, mas não me animei a dormir na cidade por estar muito perto de Anhumas e também pelo fato de a estrada passar por fora da cidade. O que se revelou um erro logístico, deveria ter parado para almoçar e levar algum lanche, pois até Mirante não apareceu nenhum posto com restaurante, nem uma barraquinha de pastel e caldo de cana...

Informei-me na estrada com um carro que parou perto de mim e me disseram que havia um pesque-pague a poucos quilômetros adiante, onde serviam almoço e tinha toda estrutura para isso. Quando cheguei à entrada do local, uma decepção triste: uma placa informava que não atendiam às terças-feira. Ô dó... eu com fome, pouca água e a uns 40 km do destino. Olhei, assuntei, vi que não tinha cachorro, então me encorajei e adentrei o local, onde deveria ter alguém, pois uma moto com o motor quente estava no estacionamento.

Reabasteci-me de água de uma torneira providencial (depois fiquei tranquilo ao saber que era de poço artesiano). No que me preparava para dar meia-volta, aparece um senhor, o proprietário do local. Que me atendeu sem pestanejar. Só não tinha comida para servir nem salgados, mas tomei uma refrescante coca-cola (nessas horas, uma maravilha...) e adquiri 3 pacotes desses salgadinhos tipo baconzitos, além de cocadas. E muita água, pois certamente comer todos esses salgadinhos me provocaria uma sede terrível.


Voltei à estrada renovado, cheio de gás, sem contar o da coca, hehe... aqui a estrada ainda oferecia acostamento bom, o que me garantia boa velocidade, e isso anima qualquer cicloviajante, pergunte a um que você conheça...
Chegando em Pirapozinho

MIRANTE DO PARANAPANEMA
Surgiu numa curva da estrada, literalmente.

No acesso à cidade, bem na entrada, um cachorro chegou bem perto, ameaçador; o único que chegou a me assustar de verdade, em toda a viagem, nos 2.260 km rodados. Felizmente os gritos da dona foram eficientes e ele desistiu. Para quem não sabe, não são caminhões, acidentes, assaltos ou quedas sozinho que assustam o cicloviajante, mas justamente os cachorros. Pois em toda estrada tem sítios à beira e nos sítios tem cão de guarda. Geralmente bravos.



Em Mirante comecei a perceber que ali realmente começava o espírito do Pontal do Paranapanema, região famosa pelos conflitos de terra, onde se iniciou a reforma agrária pra valer, ainda nos anos 1980, segundo me informei pelo caminho. Quase não existe indústrias, apenas usinas de álcool. As pessoas trabalham no campo, em suas próprias terras hoje. E se orgulham disso, nota-se um brilho alegre nos olhos deles enquanto falam sobre os fatos e das atividades exercidas. Pude notar pela região, até Rosana, que os assentamentos são produtivos, as pessoas vivem e trabalham com gosto na terra. Fiquei positivamente impressionado com isso.


Bem no centro da cidade encontrei um hotel bem confortável, a preço acessível. Aqui na região é uma constante: hotéis simples, decentes e baratos.

Aqui passei no Acessa São Paulo, onde conheci a Alva, monitora local, mais um amigo para aumentar a conta. No frigir dos ovos, concluo que o AcessaSP funciona para mim como os faróis aos navegantes em épocas mais remotas: orientação e sinal de um porto seguro. Sim, porque na conversa com os monitores, sempre obtenho informações que dificilmente conseguiria com uma só pessoa, em uma cidade de desconhecidos.

Não sou de ferro. Aqui conheci o jovem Bruno, gente finíssima, filho do Bigode

Mangueirense? Fui tirar a dúvida com a moradora e sim, carioca e mangueirense...

Antes de chegar a Teodoro Sampaio passei por uma Usina de açúcar e álcool enorme, a Usina Conquista do Pontal, que me impressionou pelo tamanho gigantesco. Já passei por diversas outras nesta viagem, esta realmente foi a campeã.


Ainda tem mais, falta só o finalzinho...




3 comentários:

  1. Muito bom seu relato. Parece que estamos junto.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela visita. Breve, em agosto, estarei de volta às estradas.

    Você é desta região?

    ResponderExcluir
  3. Parabens pela viagem e pelo relato sobre a região do Pontal do Paranapanema.

    ResponderExcluir