quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Recesso... preferia estar na estrada

Em virtude do período chuvoso no Estado de São Paulo (no Brasil todo, na verdade), preferi vir para Brasília e esperar os próximos 2 a 3 meses me preparando para uma nova etapa do SP em 2 Rodas.

O que aprendi nesses 3 meses e 1.600 km de pedal?

Primeiro, que o planejamento foi muito mal feito, principalmente na questão financeira; os proventos disponíveis se mostraram insuficientes logo no primeiro mês. Assim, estou já providenciando outras formas de conseguir recursos para não repetir o que se passou: alto estresse e ansiedade para manter-me dentro dos limites, que na verdade se revelou impossível, entrei no vermelho e precisei recorrer mais ainda a família para cobrir esse rombo.

Segundo: excesso de peso. Já em Guará (dia 12 de setembro) me dei conta disso; fiz um pacote com o que julguei desnecessário e postei para casa. Melhorou, mas não foi o suficiente, continuei com excesso de carga - e esforço desnecessário por muito tempo ainda. As altas temperaturas no início, quando se passava dos 40 graus facilmente enquanto na estrada, devido ao calor do asfalto, imprimiram uma velocidade muito baixa na pedalada. Não passava da média de 11 km/h.

Terceiro: no trajeto para casa, no ônibus entre São Paulo e Brasília, me dei conta de que nada mudara com relação a minha interação com as pessoas: continuo bastante arredio e antissocial. Melhorou um pouco, mas bem abaixo do que esperava e desejava. E isso se deve apenas a minha pessoa: em todos os lugares que passei as pessoas se mostraram receptivas, calorosas comigo; eu é que não me soltava e mantinha minhas defesas em alta, desnecessariamente.

Quarto: que adoro pedalar. Arrisco a dizer que de ora em diante a bicicleta se torna meu veículo para 80% ou mais de meus deslocamentos. Sim, nessa viagem aprendi a esquecer a pressa: especialmente conhecendo novos lugares, a baixa velocidade te propicia aproveitar mais da viagem, dos lugares, das paisagens e mesmo te permite reflexão permanente.

Questão final: ao contrário dos últimos 15-20 anos, agora tenho planos! Redescobri uma força interior que me afasta da inação e acomodação. Pedalar grandes distâncias mostrou-me também que isso pode se reverter em negócios para mim, os mais diversos. Várias ideias surgiram e estou estudando o melhor jeito de pô-las em prática. Certamente essa foi A GRANDE DESCOBERTA da viagem.


Fotos prediletas da viagem

Seguem aqui minhas fotos prediletas da jornada. Cada uma com um significado aliado ao visual que proporciona, cada uma com uma historinha própria a ser contada.

PRÉ-VIAGEM: Esta foto serviu para o logotipo do projeto. Foi feita na DF-100, próximo a Formosa-GO, quando eu treinava.

BRASÍLIA - Despedida na Rodoviária.

Márcio e Juliana. Perdi a foto com o Sérgio...
UBERABA - ainda na rodoviária montando a bicicleta e no primeiro trecho de estrada.

No início, em solo mineiro ainda, parei para uma tomada de consciência, pois até então tudo se limitava a planos. Olhei em frente, apreciei o movimento intenso de caminhões - principalmente, e confesso ter sentido uma angústia e receio: "Será que vou mesmo? Não é melhor desistir e voltar pro meu cantinho acomodado, como um cãozinho de coleira?" Sim, tive esse pensamento. Naquele momento senti realmente o significado do trecho final da frase-mantra: "...e segue uma lei misteriosa que lhe ordena destruir-se a si mesmo ou superar-se". Felizmente a coragem e a decisão de superação falou mais alto.


Pena que perdi o primeiro cartão de memória com as fotos iniciais, em que registrei a divisa MG-SP, de grande valor sentimental para mim...

IGARAPAVA: a primeira cidade no estado.

GUARÁ: pela homonímia com o Guará aqui do DF, onde vivo há mais de 40 anos, Guará tem significado carinhoso para mim. Quase sempre em minhas viagens de carro dava uma parada por lá. Agora, de bicicleta, parei com bem mais tempo para conhecer essa pequena cidade.

ITUVERAVA: aqui fiz meu cadastro no Acessa São Paulo. Tinha tentado em Igarapava, mas estava fechado no dia que passei por lá. Por todo o restante da viagem me amparei nesse Sistema. Procurei conhecer cada posto nas cidades visitadas, o que nem sempre consegui, por questão de horários, pois geralmente eles funcionam até as 17 h e eu raramente chegava a tempo.

Os monitores do Acessa São Paulo que conheci tornaram-se amigos, sem exceção, o que me criou uma relação de carinho e um referencial pra toda a vida.

RIBEIRÃO PRETO: onde passei 3 anos de minha infância; guardo recordações diversas, pontuais. Dentre elas, a da Biblioteca Municipal, onde passava horas diariamente devorando livros, especialmente Monteiro Lobato e Júlio Verne. Foi especialmente emocionante reencontrar-me aqui.

MATÃO - O que se destacou ali foi a simplicidade e carisma do vice-prefeito, o Moio, que me recebeu como se eu fosse um velho conhecido...

BARRA BONITA - Sempre me encanto com essa cidade...

TATUÍ - Estava curioso em conhecer devido à sua Orquestra Sinfônica. Não esperava uma cidade tão aconchegante. Conhecendo a história da cidade, me inteirei da Rota dos Muares, um novo destino em minhas pedaladas futuramente, quando completar a Rosa dos Ventos...


PARQUE ESTADUAL CARLOS BOTELHO - Entre São Miguel Arcanjo e Sete Barras. Foi meu batismo em estradas de terra. Exorcizei um fantasma na ocasião.


ILHA COMPRIDA - Sonhava com este lugar, imaginava-me vivendo lá futuramente... mas me desiludi passando 11 dias no local. Sem explicações...

TAUBATÉ - A alegria sem preço de rever amigos que há muito tempo se mudaram de Formosa para lá.

APARECIDA - Sempre que vou a São Paulo faço questão de visitar essa cidade transcendental. E não seria diferente estando de bicicleta.

RODOVIA DOS TROPEIROS - Simplesmente fantástico, para mim. Faz parte da Estrada Real, que remonta o século 17. As 5 cidades nesses 110 km são maravilhosas, únicas. Voltarei lá mais e mais vezes, tornou-se referência para mim.


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