Enquanto aguardava o retorno, em Brasília, planejei bem melhor a conclusão, o que se revelou bastante providencial, pois foi uma viagem mais tranquila: o dinheiro garantido me evitou o estresse e ansiedade que me acompanharam anteriormente. O conhecimento acumulado nesse tempo, inclusive técnico sobre ciclismo em geral - principalmente o adquirido com a pedalada a Pirenópolis - me deu segurança e serenidade para enfrentar os mais diversos percalços, especialmente com relação a chão irregular, fator esse que me contrariou e atrasou muito, desnecessariamente, na primeira etapa.
Diferentemente das postagens anteriores, não irei separar por cidades o relato. Ainda em Brasília, na rodoviária, enquanto me ajeitava na poltrona do Princesa do Norte, não me preocupava nem me sentia inseguro quanto da outra vez. Não estava mais partindo para o desconhecido, estava simplesmente iniciando uma viagem de 630 km por bicicleta, agora fato corriqueiro para mim. De boa... só incomodava um pouco o horário de chegada a Jaú: por volta de 4 h da matina, pela previsão. Que na verdade se deu às 05:40, reduzindo o tempo em que teria que ficar na rodoviária - felizmente a de Jaú é bem decente, pude ficar abrigado do vento e sereno, com relativo conforto.
O que não evitou um grande aborrecimento: quando semidesmontei a Áquila, fiz a besteira de retirar a roda traseira também, o que se revelaria desnecessário depois, na volta (porquê, conto no final). E não entendo como pode acontecer, a corrente se retorceu e eu não conseguia corrigir isso, assim não podia montar a roda. A alternativa era esperar chegar as 08:00 h, quando o comércio abria e pedir socorro à Marquinhos Bike Sport, com quem fizera contato telefônico anteriormente. Não foi necessário, pois enquanto eu lutava para montar a roda, curiosos passavam, davam palpite e tal. Até que um, que se disse andarilho e que já trabalhara consertando bicicletas, se ofereceu para resolver. E era verdade... desmontou uma parte do câmbio, liberou a corrente, deu uma volta assim, outra assado e pronto. Simples. Dei-lhe uma gorjeta razoável, pois calculei que gastaria mais se chamasse a Marquinhos Bike... No desespero de arrumar a roda, nem me lembrei de fotografar o evento, falha imperdoável. Perdoem-me.
Passei na Marquinhos Bike, onde comprei o par de pneus Levorin Terral 26 x 1,95 por 50 contos. Pesquisei antes, pois em Brasília não encontrei e o preço da outra marca era mais que o dobro. Como era cedo, passei pelo jornal que já me encontrara da outra vez que passei por lá, em setembro, o Comércio do Jahu, onde, infelizmente me pediram para voltar no final da tarde. Não pretendia ficar na cidade, assim deixei pra lá uma entrevista. O frio convidava a pedalar, apesar da noite mal dormida. A localização da loja, perto da rodoviária, estava a cerca de 1 ou 2 km da saída para Bauru; daí foi só pensar uma vez e sair pedalando. Jaú foi somente um ponto de conexão desta vez.
Pretendia ir para Agudos, pegando uma estrada de terra, o que me economizaria uns 10 kms até chegar a Piratininga. Mas o Marquinhos me convenceu a ir pelo asfalto, pois as estradas de terra pela região era de muito areião, o que iria me atrasar muito. Grande conselho! Iria me lembrar dele por um bom trecho, aproximadamente a metade do trajeto, pois lá só tem areião mesmo.
Assim segui rumo a Piratininga, pela rodovia SP-225, denominada Comandante João Ribeiro de Barros, asfalto perfeito, pista dupla, me senti um trem-bala.
PIRATININGA,
que eu confundo sempre com Pederneiras...
...assim como Igarapara e Ituverava, hehe. Passei ao largo de Pederneiras, logo chegando nas cercanias de Bauru, onde também não entrei. Tenho por norma evitar entrar em cidades grandes (mais de 100 mil hab), as quais oferecem muitas desvantagens a um ciclista, principalmente com relação ao trânsito local. De todas as 71 cidades visitadas, raríssimas podiam ser consideradas amigas do ciclista.
Bauru fica para trás |
Pensei em entrar em Brasília Paulista, mas a estrada de terra me desanimou... |
Morei em Bauru na infância, dos 4 aos 10 anos de idade. Mas não me impressiona muito, enquanto lembrança, daí ter descartado uma visita mais demorada. Marília é outra história, como veremos mais à frente.
Seguindo pela rodovia SP-225, que após Bauru muda de nome, passando a ser Rod. Engenheiro João Batista Cabral, o que me deixou confuso, pois mais além o nome volta, com outra sigla. Credito isso à política local, seria?...
Em Piratininga me dei conta de um detalhe: desde Jaú, as cidades por onde passaria até chegar a Marília, faziam parte do traçado da antiga ferrovia Companhia Paulista de Estradas de Ferro, uma maravilha nos anos 1960, destruída - como toda a malha ferroviária brasileira - pelos governos a partir dos 70... estupidez pura, própria dos políticos brasileiros, rejeitar o modelo ferroviário em país com as dimensões do nosso. Naquele tempo costumava viajar de trem, geralmente nas férias, quando ia a São Paulo visitar avós, tios... então fiz questão de fotografar as antigas estações, a maioria em ruínas. Outras foram aproveitadas pelas prefeituras locais, sendo utilizadas como centros culturais, oficinas de aprendizagem, bibliotecas ou mesmo sede de prefeitura.
Antiga estação ferroviária, utilizados pela Prefeitura |
Saindo de Piratininga |
Estrada em duplicação |
CABRÁLIA PAULISTA e DUARTINA
Agradável surpresa. Esses nomes me soam bem familiares do tempo adolescente ainda. Em Cabrália ocorria a troca de locomotivas, pois a linha era eletrificada desde São Paulo até aí, a partir de onde, até Panorama, passando por Marília, usava-se locomotivas diesel. Visitei o local da antiga estação, mas não resta nada dela, apenas um dos galpões que deveria ser oficinas ou depósitos, que agora é de proprietário particular, nada amistoso, com um imenso aviso advertindo para não entrar, aliado a presenção de um enorme cachorro. Fiz uma foto ligeira,com certo receio de que o dono me visse fotografando e não gostasse...
Na cidade se nota a decadência pelos prédios públicos mal cuidados, entre outros indicadores. Pareceu-me um local bom para se viver, pela tranquilidade total. Achei curioso, passando em frente da igreja matriz, o anúncio fúnebre pelos alto-falantes da igreja, que se ouve por toda a cidade. Interessante, para quem mora em uma metrópole.
Almocei muito bem em um restaurante self-service bem moderninho, inclusive que conta com rede wireless para os clientes. Gostei bastante da cidade, me levou a meu túnel do tempo..
O que restou da estação ferroviária... |
Cabrália ficando pra trás |
Em DUARTINA senti praticamente o mesmo efeito, apesar de a cidade ter crescido bastante, se modernizado. Um dos pontos que me chamaram a atenção foi o EcoParque, magnífica área de lazer com diversos atrativos, entre eles um lago onde se pode utilizar de barcos para passeios e, atração que mais me chamou a atenção, um Clube de Aeromodelismo, bastante frequentado, segundo me disseram.
O Oscar, da Secretaria de Esportes da Prefeitura, me recebeu com bastante entusiasmo. Ciclista praticante (MTB), me contou dos passeios que realizam por fazendas locais e me reforçou o conselho para evitar as estradas de terra da região devido o areião, um fator que me atrasaria muito e poderia prejudicar-me seriamente se optasse por esses caminhos.
A rota que tinha em mente, dali até Fernão, passava por Lucianópolis, por onde pegaria 13 km de asfalto e 13 de chão. O Oscar me informou a opção de voltar à estrada por onde vim que de lá iria até Fernão totalmente por asfalto, aumentando apenas 4 km no total. Grande dica!
Em Duartina passei pelo posto do AcessaSP, onde conheci o jovem Alípio, monitor local. Ainda não havia passado por nenhum desses postos, devido a horários que não combinavam com minha agenda. Ao contrário da primeira fase da viagem, passei a sair bem cedo para um maior rendimento, por volta de 06:30 a 07:00 h. Como o AcessaSP ficava quase em frente ao hotel em que fiquei e a próxima parada, Fernão, ficava a poucos quilômetros (30), esperei pelas 8 horas para fazer essa visita. Confesso que visitar o AcessaSP passou a ser uma "obrigação" para mim, pois sabia de antemão que uma boa recepção estava garantida nesses locais.
Rumo a Fernão... |
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