TEODORO SAMPAIO
Pensava que a famosa dupla sertaneja fosse dali...
Quando passei por São Manuel fiquei sabendo que Tonico e Tinoco eram nascidos na cidade e região, daí imaginava que Teodoro e Sampaio tivessem história parecida. Bem, não são filhos da cidade, trata-se apenas de uma homenagem à ela.
Pelas pesquisas que fiz antes da viagem, tomei conhecimento do Parque Estadual Morro do Diabo, que em minha imaginação ofereceria muitas subidas na estrada. Felizmente não foi assim, ufa!
Cheguei bem cansado, foram 72 km de pedal desde Mirante do Paranapanema, assim a primeira coisa que desejava era achar um restaurante. O que foi tarefa bem facilitada pela geografia da cidade: uma grande avenida que a atravessa de ponta a ponta, onde se concentra o comércio e demais centros de atividade urbana. Na verdade essa avenida, denominada Cuiabá, é a rodovia SP-613, que se inicia ali. Com o tempo foi incorporada à cidade, o que estranhei um pouco pela passagem de todo o movimento que se dirige ao Mato Grosso do Sul e oeste do Paraná, incluindo pesadas carretas.
Impressionado com esse movimento, perguntei a moradores se não são comuns acidentes graves envonvendo as carretas, e me garantiram que não, na verdade são raros. Para dar uma ideia melhor coloquei este video que fiz em minha passagem.
À noite, descansando no hotel me dei conta de ter esquecido o carregador do celular la em Mirante... saí em busca de um, mas o comércio estava de portas fechadas e não foi possível. Devido a essa mancada eu iria fazer os 82 km até Primavera/Rosana incomunicável.
Em Teodoro fiz contato com diversos ciclistas da região, sendo o primeiro o Adriano, que me colocou a par das atividades do seu grupo de pedal, que faz trilhas pela região. Prometi de um dia ir pedalar com eles... Também foi quem me indicou o Mini Hotel, onde me hospedei. Além dos ciclistas, que devido a natureza comum se mostram bastante receptivos e simpáticos, toda a população local me pareceu com as mesmas características. Talvez tenha sido esse o motivo de ter gostado muito da cidade.
Deixei Teodoro bem cedo no dia seguinte, sabendo que seria um dia difícil, pela extensão a ser pedalada, 82 kms. Em bate-papo com outros ciclistas na
Carlinhos Bike fiquei sabendo que a estrada pelo Parque era tranquila, muito boa mesmo. Alívio.
ROSANA/PRIMAVERA
Para mim se tornam única, apesar dos 12 km que as separam
Esses 82 kms seriam vencidos com alguma dificuldade, não esperava. Primeiro: logo após passar o Morro do Diabo, cerca de uns 10 km à frente, caiu um toró inesperado. E como estava bem frio me assustou de verdade, ainda mais pelos raios que caíam relativamente perto. Parei em um restaurante de beira de estrada para me abrigar. Tencionava tomar um conhaque encorajador... mas não vendia nenhuma espécie de bebida alcoólica. Como era muito cedo ainda não havia comida pronta, então segui em frente, mesmo sob chuva que amenizara. Devido à umidade e ao frio intenso, temi por chegar a um ponto de hipotermia, o que poderia ser fatal mesmo... nesses momentos em que se recorre a orações, inevitavelmente, elas mostram sua eficiência: pouco a pouco a chuva foi diminuindo, o sol apareceu - um pouco fraco, é verdade - mas o suficiente para me aquecer e espantar esse fantasma.
Com a chuva, o acostamento, de terra macia e cascalhos, se revelou uma dificuldade a mais, Caiu bastante o rendimento e pensei que seria obrigado a parar na cidade de Euclides da Cunha Paulista, pela metade do caminho. Mas quando cheguei ao ponto de acesso à mesma o sol já estava forte novamente, permitindo-me seguir em frente.
Nesse trecho todo - de Teodoro a Primavera -, tentava o máximo possível ir pelo asfalto. Felizmente os motoristas (sem exceção) se mostravam amistosos e desviavam de mim com bastante segurança; assim, só saía para o acostamento quando percebia que 2 veículos se cruzariam no ponto em que eu estivesse passando, regra de ouro para quem viaja em estrada de pista simples.
Cheguei a Primavera ainda cedo, por volta das 16 h. Rapidamente me inteirei de um hotel simples para ficar, o Arco-Iris, bem no início da cidade.
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As outras bikes na foto eram de funcionários do hotel, não eram cicloviajantes... |
Primavera na verdade é um distrito de Rosana. Foi construída na época da construção da Usina Hidrelétrica Primavera, uma das maiores do País, por isso é uma cidade planejada, super organizada, que lembra Brasília: setores bem definidos, separados, prática. Pretendia visitar a Usina, pois admiro esses monstros de concreto desde a infância. Porém a chuva voltou e persistiu nos 3 dias que passei aqui, frustrando meu intento.
Fui a Rosana de van, na sexta-feira. Chovia no dia e não quis me molhar todo com a única roupa de frio porque deveria voltar no dia seguinte, de ônibus, o que seria muito desconfortável. Além do mais a prefeita não se encontrava na cidade no dia e eu pretendia fotografar-me com ela, fechando assim "oficialmente" o projeto. (Confesso que me arrependi dessa decisão, poderia ter ficado por lá mais uns dias. São aqueles 15 segundos de bobeira que a gente tem por vezes na vida e toma decisões inadequadas).
Um final um tanto morno. Mas não invalida o Projeto. Concluí SP em 2 Rodas do jeito que imaginei: Norte, Centro Sul, Leste e Oeste do estado sentiram os pneus da Áquila em seus territórios. Cumpri uma meta a qual cheguei a duvidar que realizasse. Isso é o que importa.
A VOLTA
De ônibus. Rosana a Presidente Prudente e dali a Brasília
Na verdade não haveria necessidade de incluir a viagem de ônibus nesta história se não fosse um fato que me sensibilizou marcantemente. O
Marcos Jr, que encontrara lá perto de Regente Feijó, me recebeu na rodoviária e cuidou de toda minha necessidade ali: foi comigo a lojas em busca de caixas de papelão para embalar a Áquila (de Rosana me aceitaram trazer ela montada, no ônibus), arrumou um local bem perto da rodoviária para eu deixar a bike e bagagem e, ainda me ofereceu sua residência para pernoite. Caiu do céu!
O pai dele, ótimo proseador, me recebeu de braços abertos, senti-me bem à vontade naquela casa. Conheci também sua noiva, a Alessandra, com quem fomos relaxar em um barzinho superagradável, o Sr. Boteco.
No dia seguinte me deixou na Rodoviária bem antes do horário do embarque, pois tinha outros compromissos que não lhe permitiam me acompanhar. Gastei esse tempo embalando a Áquila. Foi aí que notei que não precisava desmontar a roda traseira, apenas a dianteira. Fiz isso ali na área da rodoviária, sob muitos olhares curiosos. Embarquei num ônibus da Viação Motta para uma viagem de 17 horas, muito mais cansativa que os 13 dias de pedal pelo oeste paulista.
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Um zé-do-caixão na rodoviária de Prudente. Curti muito. |
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Áquila semidesmontada e embalada. Só agora aprendi a fazer isso rapidamente... |
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Por do sol no Rio Tietê, em Promissão. Desculpem a qualidade, mas o ônibus estava em movimento... |
Fim.