No dia seguinte, dia 9 de setembro, segui em direção a
Nova Granada, 78 kms de estrada. Foi quando atravessei de Minas para São Paulo e coloquei a bandeira do "meu" estado...
Nova Granada é velha conhecida por pedal. Já passei por lá há cerca de um ano, quando conheci a turma da
Equipe Catraca, com quem reuni e nos confraternizamos alegremente. Ali na
Toni Bicicletaria troquei de pneus. Os que levava eram novos, mas do tipo misto, muito ruim para acostamentos idem. Com a chuva então, se tornava um risco grande de quedas. Coloquei pneus cravudos, que me garantiram mais tranquilidade pelo resto da viagem.
Segui para
Monte Aprazível, onde a Priscila Fontes, Assessora de Comunicação da Prefeitura local me ajeitou hospedagem por dois dias na cidade. Estava programado um rolê com uma equipe de pedal da cidade, mas a chuva intermitente nos dois dias impediram que ela se realizasse. Um dia voltarei lá com tempo bom para desfrutar desse prazer.
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É o que mais se vê por nossas estradas... |
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A turma da Equipe Catraca... |
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O André e o Toni, da Bicicletaria |
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A turma reunida para uma confraternização merecida |
De Monte Aprazível fui para
Buritama, repisando o caminho feito no ano passado:
Nipoã,
Planalto e
Zacarias ficavam no caminho e foram vencidas rapidamente. Em Buritama, a alegria de reencontrar amigos. Mas também foi uma passagem rápida. Enquanto estava lá, de
Araçatuba o amigo Marcos Lavor, a quem conhecera em outra viagem anterior, me contacta convidando para visitá-lo em sua nova casa, pois havia se mudado de Presidente Prudente há pouco tempo.
Para lá me dirigi, alterando um pouco a rota, que mais à frente seria alterada outra vez, reduzindo a quilometragem: ao invés de ir para Bauru, Avaré e Itararé, fui para Lins e dali pela BR-153 direto para Ourinhos, já na divisa com o Paraná.
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No km 480 da Rodovia Marechal Rondon, completei a marca dos 1.000 km da viagem |
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Ipiguá |
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Mirassolândia. A chuva forte na cidade impediu fotos. O cemitério ficava pouco à frente |
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Monte Aprazível bem ali. desci os últimos 3 km empurrando porque fiquei sem freio. A chuva derreteu as sapatas... |
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Igreja Matriz em Monte Aprazível. Raro momento sem chuva nos 2 dias que fiquei na cidade |
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Em Zacarias essa turma fez questão de se fotografar... |
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Buritama é do outro lado da ponte |
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Antiga estação ferroviária de Araçatuba, hoje terminal rodoviário |
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Pausa para um caldo de cana. Essa turma me lembrou que logo à frente teria uma serra... |
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Ah, se não fosse o caldo de cana |
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Em Marília ganhei uma revisão pela Ciclomar... |
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Marília. Nos anos 60 era aqui que em pegava o trem para a capital e outras cidades do estado |
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A serra lá de trás, na chegada, foi café pequeno. Duro foi esta, depois de Marília, seguindo para Ourinhos |
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Finalmente o Rio Paranapanema, divisa com Paraná |
Depois de Monte Aprazível, passei muito rapidamente pelas demais cidades paulistas, exceto Araçatuba e Ourinhos, onde fiquei 3 dias em cada.
No Paraná tudo se transforma
...principalmente a topografia. Até então, minha média de rodagem vinha sendo de 90 a 100 km por dia. Não imaginava que iria reduzir, forçosamente, para 50 a 60. Muitas subidas intensas, meu calcanhar de Aquiles. Mas totalmente compensado pela beleza da paisagem, sempre com visual bonito, bem diferente do que estou acostumado aqui no Goiás. Não me canso de confessar-me encantado com aquele relevo, que se estende a Santa Catarina, mais pronunciado ainda.
Eu já tinha conhecimento da peculiaridade dos sulistas em falarem muito no diminutivo, se referirem aos objetos dessa maneira. Em Formosa-GO, onde passava temporadas intermitentes nos últimos 25 anos, vivem muitos gaúchos e paranaenses. E era "gauchinho" pra cá, "carretinha" pra lá... Mas não escondo meu espanto quando, logo no primeiro restaurante de beira de estrada que parei, perto de Jacarezinho-PR, enquanto comia meu lanche, um atendente se aproxima, olha lá pra fora e me pergunta: "-É o senhor que está viajando naquela bicicletinha?..." Bicicletinha... não gostei, estranhei mesmo. Mas de pronto me situei e me prometi ajustar dali pra frente.
A primeira cidade de pernoite foi Santo Antonio da Platina, bem simpática e maior do que eu imaginava. Fiquei surpreso em descobrir ali uma empresa (JK Artes Gráficas) apta para a confecção de chaveiros em acrílico, com corte a laser. Os que levava se acabaram e eu precisava fazer mais, para vender pelo caminho (ou distribuir gratuitamente). Fica aí a propaganda gratuita, hehe...
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Primeiros metros em solo paranaense |
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Sempre encontro com minha protetora pelas cidades... |
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Aqui, perto de Joaquim Távora, sob sol de 40 graus, fogo à beira da estrada para ajudar... |
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Encontrei com o goiano Ricardo que vinha da Argentina |
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Siqueira Campos. Uma foto e segui viagem |
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Wenceslau Braz, onde a área da antiga estação ferroviária virou área de lazer |
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Arapoti: na mesma sorveteria em que passei em viagem de carro no início do ano |
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Alguns trechos eu pegava um atalho de terra por não ter acostamento mínimo na estrada |
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Chegando a Jagariaíva |
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Perto de Piraí do Sul começa a chover novamente |
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A entrada de Castro é um pequeno caos... |
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No dia seguinte da chegada em Castro participei de um Passei Ciclístico. |
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...e fui conhecer a Castrolanda, colônia holandesa no município. Outro mundo... |
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No caminho para Ponta Grossa esse cara me viu, reconheceu e parou o carro para uma foto. Depois conto quem é... |
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Ponta Grossa na chegada. Com chuva |
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Ponta Grossa na saída. Com sol. |
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Vila Velha. Um antigo desejo realizado. Só que eu nunca imaginara que seria em bicicleta... |
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Estrada secundária para Palmeira. 20 km de puro relax, pois quase não tinha tráfego. |
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O Marivaldo, que me encontrou na estrada, tinha feito o Caminho da Fé, pedalando desde Palmeira até Aparecida. A gente se conhecia do Facebook... |
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Igreja em Porto Amazonas... |
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Porto Amazonas |
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Lapa é uma cidade muito antiga. Bem preservada, felizmente. Tem muita história. |
Em terras paranaenses ainda passei por Joaquim Távora (onde conheci casualmente uma dupla de cantores sertanejos de Sto Antonio da Platina), Siqueira Campos, Wenceslau Braz, Arapoti, Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro, Ponta Grossa, Palmeira, Porto Amazonas, Lapa, Campo do Tenente e Rio Negro, a última cidade, separada de Mafra, já em Santa Catarina, apenas pelo Rio Negro. As 2 cidades são quase como uma.
Foram 540 km em terras paranaenses, do Rio Paranapanema ao Rio Negro. Todo o tempo subindo e descendo, mais subindo... Muitos trechos de estrada com pista simples, às vezes sem acostamento o que me obrigava a malabarismos incríveis para não ser levado pelas carretas, que pareciam ter saídas todas no mesmo dia...
Um parêntesis necessário: a maioria dos ciclistas e pessoas interessadas tem uma ideia muito errada sobre os caminhoneiros em relação a ciclistas. Nos 9 a 10 mil kms que já pedalei por estradas de todos os tipos, só me senti um pouco ameaçado em meia dúzia de ocasiões, e nessas, sempre foi por força da estrada estreita, nunca por "intenção assassina". Caminhões representam muito perigo dentro das cidades. Mas aí são todos os veículos automotores. Poucas cidades por onde passei demonstram respeito ao ciclista, propiciando segurança. Daí eu evitar, sempre que possível, entrar em cidades grandes, com trânsito mais selvagem, geralmente.
fotos
Das cidades paranaenses, as que mais me agradaram foram
Wenceslau Braz,
Castro,
Palmeira e
Lapa. Talvez porque foram as em que mais tempo passei e explorei, conhecendo melhor. São tantos lugares para se conhecer, a partir da informação dos locais, que pretendo voltar futuramente, talvez de carro, talvez de bike mesmo... até porque pretendo completar a rota, indo até Laguna dentro de pouco tempo.
No Paraná merece destaque absoluto o
Parque Estadual de Vila Velha. Desde criança eu conheço por fotografias aquelas formações rochosas famosas, especialmente a Taça, uma ícone nacional. Quando estudava a rota, poucos dias antes de sair de Brasília, me toquei de que passaria tão perto do mesmo (30 km de Ponta Grossa) que resolvi então que iria visitá-lo e ter uma foto junto à Taça... pena que não é permitido chegar até a trilha com a bicicleta, os passeios são guiados, a gente vai de van até o local, uma pena. Mas resolvi essa pendência de mais de maio século comigo mesmo...
Fazendo esse desvio, de quebra ganhei um atalho (de
Ponta Grossa para
Palmeira) por uma estrada secundária, bem secundária mesmo, que atende pequenas comunidades agrícolas, sendo a principal a do Quero-Quero, que dá o nome à estrada. Passa por uma rio com pequenas cascatas e de visual fantástico. No caminho tive que passar em meio a uma boiada que vinha sendo tocada por um rapaz... nem foto tenho, pois meu nervosismo era muito grande, como é que ia me lembrar de fotos, hehe...
As cidades de
Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro, Ponta Grossa, Palmeira, Campo do Tenente, Porto Amazonas, Lapa, Rio Negro e
Mafra-SC fazem parte da antiga rota dos
Tropeiros dos Muares, que no século 18 era utilizada pelos comerciantes de mulas, vindas da Argentina com destino a Sorocaba-SP, local de comercialização dos animais que eram os "caminhões" que carregavam o ouro e mercadorias outras pelo Brasil, desde Minas até o porto de Paraty.
Que pretendo um dia fazer de bicicleta. Alguém topa?
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Passando por Mafra, onde fiz amigos no Colégio Mafrense.. |
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Rio Negrinho. Aqui entreguei os pontos. Pior que mina amiga Lenice não estava na cidade para me dar uma ajuda... |
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O Sandro foi me resgatar em Rio Negrinho. Fui de carona para São Bento do Sul |
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São Bento do Sul é uma cidade linda. Mas totalmente inadequada a ciclista: um morro atrás (ou cima) de outro... |
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Minha amiga Aurea, fundamental em apoio durante os 3 dias em que me recuperei em sua casa. |
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São Bento do Sul em plena 5 da tarde... |
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Depois de São Bento do Sul desci uma serra de 800 m de desnível. Com chuva todo o tempo. |
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Depois de Corupá, cheguei a Jaraguá do Sul, partindo no dia seguinte para Blumenau, via Pomerode. |
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Pomerode. Tenho predileção especial por essa cidade, só não sei explicar porque. |
Entrei em Santa Catarina por Mafra. Curioso: nessa cidade fui contactado pelo Amarildo Chaves, acionado pelo irmão que mora em Araguari, o Aldamir Chaves a quem conheci casualente quando passei por lá. Estava saindo do hotel com destino a Uberlândia e ele passou pelo hotel naquela hora, em que fazia uma caminhada matutina... o mundo dando voltas.
Saindo de Mafra para São Bento do Sul, passando por Rio Negrinho, uma péssima surpresa: sentia-me muito cansado, esgotado mesmo, propenso a desistir ali mesmo. Esse estado de ânimo me fez empurrar a bicicleta em qualquer subidinha que aparecia. Cheguei esgotado em Rio Negrinho, a 45 km de distância. Faltavam apenas uns 20 para São Bento do Sul, o destino final do dia. Não aguentei. Tive que apelar para a amiga Aurea, que por sua vez acionou o Sandro, que foi me buscar de carro no local.
Não preciso dizer que o ânimo simplesmente desaparecera. Todo esse trânsito foi feito debaixo de chuva e com bastante frio. Graças ao apoio ímpar da Aurea, fiquei 3 dias na cidade para me recuperar. Foi um descanso realmente compensador. Vinha de 35 dias pedalando quase sem parar, já contabilizada 1.800 kms percorridos. Descuidei muito da alimentação, todo o tempo - um erro gravíssimo a quem se aventura numa viagem dessas. Todos esses fatores se somaram à questão financeira (meu dinhero havia acabado) e me levaram a um estresse sem tamanho, uma estafa total. As previsões de tempo indicavam mais chuvas para a região. Previa-se fortes tormentas no sul do estado, na região de Laguna, para onde me dirigia e isso me deixou bastante apreensivo.
Segui para Jaraguá do Sul, descendo uma serra deliciosa (apesar da chuva, frio e grande movimento de carretas, com vários trechos sem acostamento) com desnível de quase 800 m. Quase-felicidade...
Passei por
Corupá, direto, nem entrei na cidade. Com chuva é quase impossível fotografar (não tenho equipamento de primeira linha) e isso tira um pouco o gosto da viagem, ao menos para mim. Cheguei em
Jaraguá do Sul bem tarde, já quase anoitecendo, devido ao tempo fechado. Gostei bastante da cidade, esperava menos dela.
No dia seguinte, terça-feira, 6 de outubro, saí com destino a
Blumenau. Viagem tensa, atravessando uma serra curta - 5 kms no total, mas com subida muito íngrime, estreita, sem acostamento e sob chuva. Só faltava encontrar o Fred Kruger numa curva daquelas... felizmente encontrei foi uma capela quase no topo da serra, dedicada a N. S. de Lourdes, onde descansei um pouco e fiz uma prece em agradecimento...
Blumenau
Em
Blumenau, como ia ficar em casa de parentes, não me preocupei muito em chegar cedo. Foi tanta despreocupação que errei o caminho, passando direto em um trevo onde deveria seguir para a esquerda. Felizmente já conhecia a cidade anteriormente e logo, uns 3 km adiante percebi o erro e retornei. Sob chuva.
Os cerca de 7 kms entre esse trevo e meu destino foi muito tenso devido ao grande movimento de veículos de todo tipo, incluindo aí ônibus urbanos. Trânsito urbano, como já citei antes, vejo como perigo muito maior que as 2 serras que enfrentara nos dias anteriores...
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Para minha alegria, ou consolo, cheguei no dia de abertura da Oktoberfest. |
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1.924 kms pedalados. (O contador só vai até 999). Ficou de bom tamanho... |
Com o clima louco, insistindo em manter a chuva e previsões de dias mais chuvosos ainda, decidi ali interromper a viagem. Voltei de ônibus. Tão logo surjam as condições favoráveis, irei concluir esse trecho de pouco menos de 300 km. Os que acompanharem verão.
Obrigado pela leitura.